É breve, é pequena, a distância que separa o avô do neto.
Feito  o  arado  que  rasga  a  terra,  a passagem do tempo
deixa sulcos na alma e no rosto.

“As  viagens  sucedem-se e acumulam-se como as gerações.
Entre o neto que foste e o avô que serás, que pai terás sido?”

A única coisa que nós temos de fato é a vida.
E  com  ela  podemos  fazer  tudo,   ou   nada.

Pais, filhos e netos.
No fim das contas,

Cada um tem que caminhar com seus próprios passos.

Buscar uma experiência de significação,
Trilhar a senda do auto-aperfeiçoamento.

A vida é um instante, um sopro.
Quantas   gerações   já   vieram  e   se   foram,
Quantas ainda virão e igualmente passarão...

Menos de uma hora de vida.
O primeiro beijo.

Há quem sustente que é o amor das mães
que   mantém   o    mundo   em   seu   eixo.

Memórias poéticas e afetivas.

Os  pequenos  gestos e instantes que
revestem de beleza e ternura o tempo.
Nos vagões da existência terrena, por
um breve instante passeamos.

O ato de observar é a única chave
que  abre  a  porta  dos  mistérios.

A paisagem de fora, a vemos com os olhos de dentro.

A  paisagem   é   um   estado   de    alma.
Na realidade, o que vemos está em nós.

Não vemos o que vemos, vemos o que somos...

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

Ter olhos para a beleza do céu,
para   a   poesia   das   nuvens.

Cultivar a quietude do espírito como potência de transformação.
Ter   um  olhar   capaz    de   discernir    a    beleza   invisível.

A  filosofia oriental nos ensina que
a mais bela imagem não tem forma.

Resgatar a beleza, a poesia e a espiritualidade
capazes  de  suavizar a nostalgia do Absoluto.

Cultivar a magia e o encantamento de se estar no mundo.

Cativar  a  via   do  Silêncio  dentro  de  nós.
Esta existência terrena é uma oportunidade
de   despertarmos  da   letargia  e  do  sono.

Esta existência terrena é a infância da Eternidade.

Uma oportunidade para nos aproximarmos
da   Pura   Luz   que  habita  nossa  finitude.

Felizes os que aproveitam com sabedoria
a    preciosa  aventura   que   é    o   existir.

Feliz o olhar capaz de discernir a beleza do invisível...

                                                                             José Saramago 












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