Um jeito esquisito que Jesus tinha, de preferir os piores, não é?
Me  faz  pensar  na beleza  dos  avessos:  às vezes,  a gente na 
pressa  de encontrar,  não vê. 

Quantas vezes na minha vida eu desprezei  as  pessoas,  porque 
eu  considerei o agora.  É tão doído, a gente ser visto somente a 
partir  do  presente,  quando  as  pessoas  olham  pra gente e só 
enxergam  aquilo  que  temos no momento.

Isso  é  fascinante  em  Jesus,  por isso ele era capaz de preferir 
quem  ele  preferia.  Porque  Jesus  não  era  um homem que se 
prendia  no  presente. 

Eu acredito  e  acho  interessante  isso:  que  os  amantes  nunca 
esgotam  as  criaturas  amadas,  porque  o  amor  sobrevive   de 
futuro. Ele consegue enxergar o que ainda não vimos, a pessoa 
que  ama  consegue  enxergar  o  que  outro  ainda  não  é, vê o 
avesso, vê o contrário da situação.

É tão bonito pensarmos que a beleza do tecido tem um sustento, 
uma  trama  que  está  por  trás  de  tudo  isso. Compreender  as 
pessoas,   amá-las,   só   é   possível   a   partir  do  momento  que 
entramos na trama do avesso, quando não enxergamos somente 
aquilo  que  os  olhos  podem   revelar,    podem   conhecer,   mas, 
sobretudo, aquilo que ainda está oculto.

Deus  nos  ama  assim,  porque  consegue enxergar o que a gente 
ainda não é, mas que  ainda podemos ser.


Só quem já provou a dor
Quem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais
Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
Precisou saber recomeçar

Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota algum motivo pra lutar
E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer

Que o verso tem reverso
Que o direito tem um avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E o ódio é uma forma tão estranha de amar

Que o perto tem distâncias
Que esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema solução
E que o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz.

Só quem soube duvidar
Pôde enfim acreditar
Viu sem ver e amou sem aprisionar
Quem no pouco se encontrou
Aprendeu multiplicar
Descobriu o dom de eternizar

Só quem perdoou na vida sabe o que é amar
Porque aprendeu que o amor só é amor
Se já provou alguma dor
E assim viu grandeza na miséria
Descobriu que é no limite
Que o amor pode nascer

                                                 Pe. Fábio de Melo


 Assista o video