A cada outono, certas plantas e árvores preparam-se para
um  repouso  necessário  e  vital  à  sua vida e continuação.

Algumas espécies de  árvores  matizam-se de várias  cores,
num  maravilhoso  contraste entre a melancolia  e  a beleza
extrema.  Depois,  uma   a    uma,  as  folhas   caem,   como
lágrimas,  até  que  as  árvores,  nuas  e  tristes,  abram  os
braços ao inverno e esperem, pacientemente, a primavera,
que restaurará cada folha caída.

Por que para nós seria diferente? Por que não perder antes
de  reencontrar,  por que não as lágrimas, por que não  dias
áridos,  frios  e secos?  E por que não a esperança de que a
primavera volte? Porque, creiam, ela volta sempre!

Talvez nos julguemos bons demais para receber o sofrimento,
como  se  ele  fosse  sempre  símbolo   de  castigo  e  não  algo
 necessário ao nosso crescimento.

As folhas caem e as árvores parecem assim tão desprotegidas,
tão solitárias!...  e   eu   me   pergunto   o   que   faz   com   que
sobrevivam.

Elas entendem que esse período é necessário à sua renovação.
Elas  aceitam,  doam-se  e  esperam  e  recebem  de  volta,   no
tempo oportuno.

Assim  somos  nós com todas as perdas que sofremos, com
as  lágrimas  que  escorrem  e  salgam  nossa  boca,  com o
tempo que parece interminável ou as noites longas demais.

Tanto que não entendemos e  não aceitamos o sofrimento,
ele  se  prolongará.  Tanto  que  não vemos isso como uma
fase, apenas uma fase, a ferida estará aberta e sangrará.

Não aceitar o outono e negar o inverno não faz com que
não existam. Apenas nos deixam  fora de uma realidade
que chega pra todo mundo.

Não somos maus demais para recebê-los como um
castigo  e  nem  bons  demais  para  que possamos
não acolhê-los.

As árvores perdem as folhas e perdemos os nossos. Elas
choram  e  choramos  também.  Elas  esperam e nada há
que nos impeça de esperar.

E elas recebem, a seu tempo determinado, novos galhos
e novas  folhas, novas  flores e novos frutos. Sentem-se
assim completas.

Somos assim o que somos e o mesmo Deus que sustenta
as árvores, nos sustenta a nós!

E Ele nos poda, nos molda, nos deixa nús e aparentemente
sem  defesa,  mas  está  sempre  presente  e  estará  ainda
quando  a  primavera  voltar,  quando  seremos,  depois  do
inverno frio, renovados e prontos para recomeçar.

                                                                            Letícia Thompson














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